quinta-feira, 28 de maio de 2009

O que não sou me mata


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O que não sou me mata.


A pintura iluminada de Elieni Tenório.
A vida está de tal forma presente na pintura de Elieni Tenório que não precisa ser evocada. Como todos sabemos, primeiro se vive, depois se pinta. Talvez por isso se possa dizer que “Vivências” não é a palavra certa para dar título a esta exposição, mas você pode chamar isso tudo como bem quiser. Como dar nome ao fogo?
O artista não organiza mas, sim, desloca-se sua experiência como teia significante. É desse modo que Elieni passa entre as coisas para sangrar. Desde “Suburbano Coração” - primeira individual realizada em 1998 - que sua pintura é tomada pelo passional. Sucumbe à paixão. O que vive pulsa dentro do fogo: a vida só é possível dentro do fogo. Daí as cores fortes lançadas sobre o papel, entre as quais a artista não dispensa nem mesmo o roxo. Cor/rosões do estilo.
“Uma coisa são sempre duas: a coisa mesma é a imagem dela” (Carlos Drummond de Andrade). Para Elieni “A coisa mesma” espalha imprevisíveis significados ao seu redor, “a imagem dela” procura articular seu próprio significado, suas ruínas, palavras arrebentadas, becos, ciladas. Essa invenção do olhar da artista custa afixar o real à sua absurda identidade, resultando em pintura centrada em si mesma. Jogo de arma. Pequenos retratos de família, espelho, portas, janelas, transparências, não raro irrompem do avesso. A inexprimível ausência ao oscilar.
A forma dramática se orienta, na pintura de Elieni, pela vontade de viver uma vida que nos pertence. Freqüentemente essa vontade se transforma em desejo erótico. È esse ato consciente, nada freudiano de uma “leitura as àvessas” que vai definir uma postura cada vez mais característica de uma pintura que não se quer representativa daquilo que se observa, porém auto-representetiva daquilo que se opera. Vivências a se decifrar, a dor, tudo que tortuosamente ainda se faz. “é que um mundo todo vivo tem a força de um inferno”(Clarice Lispector).
Lieni



Ney Paiva
Poeta
Belém - 1999.

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