quinta-feira, 28 de maio de 2009

Alegorias do Feminino


SolidãoDe malas prontas Quase de saida Enquanto ele dorme I
Pintura s/Tela Pintura s/Tela Pintura s/Tela Pintura s/Tela






ALEGORIAS DO FEMININO

A mente do pintor deve ser como um espelho que sempre
toma a cor da coisa que reflete e que está cheia com tantas
imagens quanto as coisas postas diante dele...
(DA VINCI, 1925, P. 22)

Quando Elieni Tenório fez sua primeira incursão no institucionalizado mundo das artes, em dezembro de 1989, na última Sessão Espaço do período, no Hall Ismael Nery do CENTUR, a despeito de um certo ecletismo de gosto e produção, já denunciava o elemento temático que seria o fio condutor do pensamento figurativo que desembocaria na fúria de pintar fantasias, emoções e frustrações do eu e de outros “eus”presentes ainda hoje nos seus trabalhos.
Provavelmente, nessa trajetória, quase nunca linear, de erros e acertos, Elieni viu surgir as possibilidades de, através da pintura, invadir e ver invadido os domínios daquilo que se entende como condição feminina, tal qual nos foi apresentada nestes séculos de patriarcado. Entretanto, antes de propor-nos uma ruptura conceitual do tema, a artista apresenta-nos isto sim, um mundo alegórico todo ele paradigma de uma liberdade individual, subjugada pelo pictórico.
Aos olhares curiosos do coletivo simbólico, são apresentadas cenas de uma periférica realidade, na qual a antevisão da realização erótica é permeada de ilusões e desilusões, completadas no plano metafísico do qual a pintura é elemento provocador de inconsciente neo-platonismo. Paixões súbitas, olhares fugidios, traições, adultérios, sentimentos vãos, emoções humanas, fantasmagorias manifestas no mundo sensível do ser e do não-ser.
Na arte de dizer e de negar através das imagens, encontramos espelhos que não são espelhos, mas duplos de uma forma idealizada, objetos que logicamente estariam ocultos, aparecem evidenciados absurdamente; imperfeitas perspectivas a nos fazer lembrar o jogo ilusório de representações do mundo das idéias; atos interrompidos, fatos não consumados, são lembranças que espelham recortes de memórias de si e de outros. São configurações que remetem a desejos submersos no inconsciente da alma humana.
É a Female exteriorizando as relações nebulosas de um mundo simbólico, flagrada na representação diáfana de mosquiteiros que mais lembram planejamentos de alcovas, de transparências compostas por cortinados e lâminas de vidros embaçados pelo calor de corpos em movimento. São momentos em que o figurativo propõe muito mais que simples mimesis, a possibilidade de recodificação e alargamento do próprio conceito de imitação.

Lídia M. S. Souza
Arte-Educadora
Belém - 1999

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