quinta-feira, 28 de maio de 2009

Minha trajetória artística


Trabalhando no atelier Razões do corpo Razões do corpo
Série: Desenho s/ gravuras Xilogravura


Minha trajetória artística

O “Silêncio que evoca" é a minha primeira exposição individual (no ano de 1999) composta unicamente por gravuras, embora eu já venha trabalhando com essa técnica desde o ano de l997, através da qual fui classificada e premiada em salões e bienais em nível regional, nacional e internacional. O título dessa exposição dá a medida da passionalidade explorada nas cenas, onde as palavras cedem lugar para outros signos, para o discurso dos olhares e o gestual.
O processo criativo que desenvolvo compreende muitas experimentações. incluindo técnica mista sobre suportes pouco convencionais. Nele há interferências de papel de parede, moldes, tecidos, marcador de retroprojetor, renda, fita métrica e muita costura. Pintura, desenho e, especialmente, gravura são as técnicas inseridas em meu trabalho o tempo todo. Esse processo me dá a oportunidade de costurar, colar, recortar e reproduzir tudo isso. Assim, construo, desconstruo para depois reconstruir.
Através da gravura, exploro inúmeras possibilidades. Para isso, não deixo que o trabalho se finde na impressão do papel, agindo sobre a imagem gravada com a pintura. É assim que muitas de minhas gravuras ganham uma, duas, três cores. No caso das xilogravuras, a cor é quase que exclusivamente o vermelho. Gosto do contraste, do vermelho, da paixão.
As interferências vão além da cor. Passam às figuras, que eu insiro ou apago, à medida do gosto. Uma matriz para coordenar e compor novas imagens, outras leituras. Por isso, não enumero minhas gravuras. Cada uma delas é diferente. O recorte da figura é um dos aspectos visíveis em vários trabalhos. Um artifício a mais para uma questão sempre recorrente na obra: a reprodução da imagem. Não sei o porquê disso, mas sei que é algo que me fascina. Tenho fascínio, também, pela fotografia. Só me dei conta disso depois que as pessoas passaram a me perguntar por que eu usava tantos porta-retratos, jogos de espelhos nas minha telas. Acho interessante mostrar a figura sob vários ângulos, e também isso dá uma dimensão diferente dos ambientes e na perspectiva.
Na produção de objetos, o processo de trabalho tem início com a produção dos esboços, pois os desenhos buscam a melhor adequação dos objetos aos suportes, em particular no que se refere aos manequins, e ainda permitem exercitar as possíveis soluções quanto a arquitetura. Neste sentido, são importantes também as pesquisas que venho realizando com o tecido visando obter a coloração e a consistência desejadas para os objetos, utilizando tinta, pigmentos diversos e cola.
Todo esse trabalho está estreitamente articulado com outro componente do meu fazer artístico que é a costura. O ato de costurar se constitui para mim um momento de dar asas à minha imaginação, e a utilização da máquina de costura acaba se transformando em oportunidade para também desenhar. A linha que traça a costura no tecido arma formas dos objetos, insinuando curvas e fendas. É como se estivesse esculpindo em tecido.
Esse processo, não linear, é desafiador. É um processo de construção/desconstrução que tem como referencial a roupa enquanto segunda pele. O produto do meu trabalho não tem compromisso com o utilitário, transcende a indumentária, revela fantasias e transita entre a tênue fronteira que separa o sensual e o erótico.
O meu produzir artístico liga umbilicalmente desenho, tecido e costura.
O meu fazer artístico não está desvinculado dos contextos econômico, social e político: a leitura que faço do cotidiano (das mulheres, da periferia, das mazelas sociais, do descompromisso político) está expressa de uma forma ou de outra nos meus trabalhos, como mostrado nas individuais “Suburbano Coração”, “Espelhos da Alma”, “Nos Bastidores da Vida”, “Essência do Feminino”, “Nos Tempos do Apagão: aventuras e desventuras”, “Entrelinhas” e “Obsessão”, entre outras.
Continuo lidando com a delicadeza do universo feminino, da paixão, do encontro e desencontro. Há diferentes processos refletidos. Tem a mulher, o travesti, e mesmo a figura masculina, que também mostra seu lado sensível. Existe a preocupação técnica, que me faz pesquisar constantemente e atentar outros gêneros de composição diferentes do figurativismo. Gosto de acompanhar o que está sendo feito. Não que faça apropriação ou releitura, mas é bom ter essa preocupação e gosto de mudar o meu trabalho com pequenas coisas.
A arte foi surgindo aos poucos, sem que percebesse, e tomando o lugar de meu anseio. Hoje minhas obras carregam retalhos de minhas cortinas, do forro de meus sofás e de mim mesma.


Elieni Tenório
Artista Plástica
Maio, 2009

Um comentário:

  1. Elieni, bom saber que você prossegue tomada pelo fogo de seu trabalho. Muito êxito! Abraço

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