quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nos Bastidores da Vida


Disque é meu Síndrome da ausência Sob medida
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NOS BASTIDORES DA VIDA

Considerando que o século XX estendeu a esfera artística aos seus limites e definições, conforme verbalização de muitos teóricos, artistas, historiadores e críticos, anunciando que, não tendo mais nada a dizer, a arte estava morrendo, as metáforas de Elieni Tenório revelam-se como uma anima visível da inventividade humana, pois inventar não é, designamente, apresentar algo novo, que nunca tenha tido existência. Se Deus criou a mulher de uma costela de Adão, vai-se aí a rememoração de que só inventamos aquilo que, por alguma razão, passou percebido aos nossos sentidos, mesmo que silenciosa, sonolenta, a consciência permaneça ocultando por alguns bocados de tempo.
Os Bastidores da Vida dá continuidade ao sentir-pensar-fruir simbólico da mulher desejante, desejada que ancora nos bastidores, suporte revelador da imaginação e realidade que não se converte somente como o espaço pictórico, mas que nos traz Penélope, tecendo à espera do ser amado. Regras ocultas movem seu processo artístico, mas seria interessante ressaltar Os Dôra, sinais concretos da aliança de duas casas, integração da noiva na casa de seu esposo e da legitimidade dos filhos que vai lhe dar. E como é possível perceber, este sinal na sua forma-conteúdo?
Através dos elementos configurativos a dualidade da figura humana mulher x mulher e mulher x homem num cenário que nos remete a um espelho, que não representa somente o que é semelhante, mas o contraste. As cores fortes, quentes e frias são ordenadas para situar o clima; os espaços geometrizados com noção de perspectiva desconsertam o olhar de quem vê, pois, ao mesmo tempo em que o espectador a ser um membro de sua casa, seu olhar, quando se alonga à linha do horizonte, é invadido pela sensação de que o espaço não é real, pois os móveis saem das paredes como se a matéria que os designam fossem mera ilusão, distorção de quem olha. A repetição de seus ícones é constante, não só com a figura humana, mas em fotografias e janelas, assim como os interruptores e as meias, adornos que escondem e revelam a sensualidade feminina.
Mas o que há de novo na abordagem artística de Elieni Tenório que a fez ancorar, nos olhares de críticos e curadores de Arte, como singular? Suas obras seguem aspectos estéticos contemporâneos como fragmentação, ruptura de suportes, envolvendo elementos de proposições universais, mas também revelam o ser humano situado num tempo e espaço local, regionalizado pelas metáforas, literalmente atuais.
Creio que a função da arte, no nosso tempo, não é agradar aos sentidos, mas prover uma investigação fundamental da arte e da realidade, em que a idéia ou processo do artista seja tão importante quanto o produto acabado. Evidentemente, que o produto final precisa estar apresentável ao público, necessita ser organizado. Mas a organização não pode camuflar, inventando um artista A obra é o cartão postal do artista, reveladora do compromisso com o seu ofício. Aos curadores cabe o papel de teorizar a morada das obras nos espaços públicos, mas o artista precisa compreender que o seu teor está, exatamente na capacidade inventiva, quando está antenado, re-criando o seu olhar-pensar-fazer. Elieni traz a prerrogativa singular, universal e múltipla. Sua obra é um quebra cabeça carregado de metáforas, que não se contém só na percepção retiniana, mas se transfigura como o enigma da sua vida, assim como foi Frida Kallo e de tantas outras artistas mulheres.

San Chris Santos
Artista Plástica/Professora de Arte
Belém - 2002

Um comentário:

  1. Lembro de algumas obras que estão aqui nesse blog, algumas que estavam na sua casa no dia que nossa turma foi lá.Sou aluna do cesep, aluna da prof.Lizy Marques. Nossa turma vai fazer um trabalho.Fazendo releitura das suas obras, e ate vai ter um convite para darmos para nossos convidados no dia que tiver essa apresentação.Quero agradecer por ter nos recebido muito bem no dia da visita.
    De Aluna Evelyn Ribeiro e a turma da 7ª B.

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