quinta-feira, 28 de maio de 2009

A Câmara Clara


Contemplação Recomeço Continuo te esperando
Pintura s/ Tela Pintura s/ Tela Pintura s/ Tela

A Câmara Clara.

“Perdi-me dentro de mim
porque eu era labirinto,
e hoje, quando me sinto,
é com saudades de mim.”
(Mário de Sá Carneiro)


Talvez não seja de estranhar que Elieni Tenório procure delinear, a esse ponto de sua ação poética, continuamente renovada, as repercussões internas de uma pintura que sabe se valer do fato de que a identidade de um texto (como a dos homens) não garante uma distinção: ao mesmo tempo que expressa ser uma coisa, alude sua ausência.
A (im) precisão calculada desses reflexos - uma listagem de negações e perguntas, portanto, reflexões - visa desalojar a linguagem do seu caráter de representação convencional e estabelecer um litígio: nos conduz ao núcleo emocional de um acontecimento do qual, no entanto, a história está subtraída e os diálogos, a despeito do ambiente teatral exaustivamente reconstituído, não existem. Aqui o silêncio se refaz dentro do silêncio e o amor é um brinquedo em que, como na morte, sempre perdemos.
Participamos assim de uma intimidade, partilhada pelo “eu” e pelo “tu” internos à pintura, mas que não se lança ao ar, não se projeta para fora, gerando efeitos de nitidez e simultâneo enlaçamento nomeados pela mínima narração cromática.
Um universo sendo euforia é o resultado final desse delineamento, a um passo do espelho e de olhar não inocente é nessa câmara clara que Elieni Tenório nos revela o ponto exato da distância entre como um escândalo linear, de não podermos nos dispersar a não ser dentro de nós mesmo, habitantes de uma zona onde nenhum gesto mais é possível- ou é, será, pois os contornos do espelho podem não ser fixos e quem sabe possamos atravessá-lo – um percurso no labirinto.


Ney Paiva
Poeta e Artista Plástico
Setembro 2000

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