sexta-feira, 29 de maio de 2009

CURRÍCULO ARTÍSTICO - RESUMIDO


CURRÍCULO ARTÍSTICO

Nome: Elieni Tenório Soares Gomes
Nome Artístico: Elieni Tenório
Endereço: Av. Rodolfo Chermont, Res. Ipuan, Rua: A, nº. 38
Bairro: Marambaia - CEP: 66.615-180 – Belém-Pa
Fone: (91) 3231-5515 / 8142-8502
E-mail: elienitenorio@yahoo.com.br
Site: http://www.culturapara.art.br/ / http://www.portalcultura.com.br/
Blogger: elienitenorioartplast.blogspot.com
MSN: elienitenorio28@hotmail.com

Elieni Tenório, nascida em Mazagão – AP (1954), vive e trabalha em Belém-PA. Cursou Extensão em Laboratório e Pesquisa de Artes Plásticas na UFPA - Universidade Federal do Pará; Membro do Conselho Cultural da Fundação Ipiranga. Ao longo de sua carreira, já realizou 23 individuais no Brasil e exterior, destacando-se “Obsessão”, Galeria Bellevue-Saal, Wiesbaden, Alemanha. Participou de 04 bienais (8ª Bienal Naifs do Brasil Entreculturas, convidada da Mostra “Matrizes Populares”, Piracicaba - SP; 1ª Bienal Internacional de Sorocaba – SP; XIV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, Portugal; e 4ª Bienal de Gravura de Santo André - SP). De 52 coletivas, dentre as quais: “Projeto Prima Obra 2000”, Galeria da Funarte, Brasília - DF; “Traços e Transições”, Casa das Onze Janelas, Belém - PA; “Evidências”, Kunsthaus, Wiesbaden, Alemanha. E de 49 salões em nível regional, nacional e internacional, dentre os quais: “I Salão Internacional de Minigravura”, Vitória - ES; “VII e VIII Salão de Artes de Itajaí” - SC; “XXXIII Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba”, São Paulo - SP; “X SAMPA – Salão Municipal de Artes Plásticas”, João Pessoa - PB. Recebeu várias premiações, destacando-se o 2º Grande Prêmio do XXV Salão Arte Pará. Obras em acervo: Museu do Estado do Pará – MEP, Museu de Arte de Belém – MABE, Casa da Memória/UNAMA, Fundação Rômulo Maiorana, MABEU, ESTACON, Galeria Elf, Dragão do Mar - Fortaleza - CE, Espaço Cultural do Banco da Amazônia, Museu Casa das Onze Janelas, Instituto de Artes do Pará , Museu da Universidade Federal do Pará, Pinacoteca Municipal de Atibaia – SP, Museu de Arte Contemporânea da Bienal de Vila Nova de Cerveira – Portugal, e Secretaria de Cultura de Wiesbaden- Alemanha. Atualmente, desenvolve pesquisa utilizando diversas técnicas e suportes visando ampliar o seu universo plástico e as formas com as quais representa as práticas femininas.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Apagão=Luzes e Travas"

Sem poder te ver Fechado pra balanço Por um fio
CalcogravuraCalcogravuraCalcogravura
“Apagão= Luzes e Travas”

Elieni Tenório iniciou a sua carreira artística em 1989, em Belém, participando de coletiva no Centur. Evoluiu (1997) para o cotidiano da periferia, e, nesse contexto de outros tons, outros sons, novas comédias, muitos dramas, conheceu a mulher suburbana. Mulher da vida fácil, ou difícil, que como outra mulher da zona central, tem sonhos e fantasias éticas, poéticas, zootécnicas, amorosas, anormais. Elieni Tenório é a cronista (e testemunha) desse visual mais carente, em certo sentido resolvido com as receitas do cotidiano (solidário) popular que mostra a sua cara além de São Braz. Coerentemente, Elieni Tenório mostra “sem voltagem” (sem volta), “à noite todos os gatos são pardos (e a puta também)”, “sem energia” (???), “uma volta” (da luz elétrica à vela), “ vergonha” ( escondendo o rosto) .... Elieni Tenório foi a vencedora do Salão de Pequenos Formatos de 1997, deste CCBEU, e retorna com as versões recentes do seu povo.



Gileno Müller Chaves.
Curador
Belém, janeiro de 2002.

Sobre a Pele - Resultado Bolsa de Pesquisa (IAP)




Instalação de Parede e Piso (Objetos sobre a Pele)


Sobre a Pele

Elieni Tenório se encontra familiarizada com processos gráficos e tridimensionais, mas sua pesquisa é de outra natureza. A artista não discute a forma, detém-se no universo feminino. Com o projeto Sobre a Pele percorre o cotidiano da mulher, concentra-se no vestuário íntimo, no corselete que pode ocupar o corpo do manequim, tornar-se peça escultórica ou emigrar para o caderno de anotações, adquirindo um valor gráfico que transforma a anotação em livro do artista,
O processo investigativo é composto pela pesquisa dos vários suportes em que a obra se apresenta e pela diversidade de materiais utilizados: moldes, rendas, entretela, organzas, fechos e meia calça. Obsessiva, Elieni faz e refaz o trabalho inúmeras vezes, da mesma maneira que constrói e reconstrói os compartimentos da própria casa. Vida e obra se entrelaçam. Índices de intensa sexualidade percorrem o universo feminino, cobrem de sensualidade as configurações arredondadas de seios e quadris que impregnam o corselete. A mulher ausente da peça exposta, virtualmente, impõe-se à forma.

Mariza Mokarzel
Curadora
Belém - 2009

Sobre a Pele-Itaú Cultural


Objetos (Itaú Cultural Rumo Visuais)


Sobre a pele

A artista tem uma poética que une a artesania da costura e a pesquisa de materiais e remete às discussões contemporâneas sobre corporalidade.
A instalação Sobre a Pele apresenta mapas investigativos de compreensão do corpo e discute uma segunda pele. Ambas, seja a roupa seja pele, estabelecem o limite, ou as relações entre o sujeito e o mundo.

Paulo Reis
Curador
São Paulo - 2009

Sobre a Pele


Objetos sobre a pele Objetos sobre a pele Objetos sobre a pele


SOBRE A PELE

O universo feminino é acionado para introduzir uma reflexão sobre a especificidade do corpo da mulher. Elieni Tenório compõe sua instalação Sobre a Pele elaborando peças que, em primeiríssima instância, parecem ter sido feitas para vestir, com aparência de corselets, tops, frentes-únicas, mas que no momento seguinte revelam-se inadequadas para o uso. Em tons cor de pele, com detalhes que indicam marcas, percursos para costuras e cortes, estes objetos surgem como territórios em que o corpo foi índice para uma desconstrução.
Dos princípios para a modelagem de roupas, Tenório torce, alarga, reconfigura sua percepção, insinuando fendas, volumes, aberturas que sugerem partes do corpo corriqueiramente associadas ao sexo e ao prazer. O trabalho transcende a indumentária para ocupar o papel de uma segunda pele em que o corpo se configura como lugar de mistério. Se este corpo é impreciso, o que interessa à artista é que ele pode ser acessado por meio das sugestões contidas nos bojos, nas fendas, volumes e reentrâncias.
A pintura de Elieni Tenório se põe como couro estendido. É uma panóplia do corpo (ou o corpo mesmo, representado). [panóplia = armadura]. A pintura é pele decorticada como molde da segunda pele [a roupa]. O corpo fragmentado costura uma totalidade que identifica hipóteses de vestígio do sujeito.
Paulo Herkenhoff
Curador
Belém - 2006

SOBRE A PELE


“Depois de cortar e modelar, a pintura de Elieni Tenório é a segunda pele. Essa roupa, mais que cobrir ou velar, revela sentidos do corpo. O molde, com suas linhas e pontilhados, ajusta imagem e desejo. A roupa seria uma espécie de arquitetura do ser.”

Paulo Herkenhoff
Curador
Belém - 2005

Linhas, agulhas e moldes: arquiterura do ser


Objeto (Instalação de Parede) Objeto (Livro-Instalação de Parede) Objeto (Livro)


LINHAS, AGULHAS E MOLDES: ARQUITETURA DO SER

As obras testemunham a sua experiência de vida, seu imaginário criativo, facultando, não só revelar as emoções, sensações, idéias, mas a permitir que as abstrações, agora, se ocupem de deixar que o suporte se molde e se acomode entre linhas, colagens e tramas.
A obsessiva tensão que as linhas apresentam, ora pelo traço, ora pelas incursões das costuras, reforça a idéia de que a mesma arquiteta o interior que luta por não se ocultar mais.
O que Elieni extraiu?
Consciente ou inconsciente, a condução desta face emerge da sua condição humana, irreverente consigo mesma. Suas mulheres, seus espaços antes povoados de pessoas que retratam o seu universo familiar de festas, com ambientes urbanos e interioranos se transformam em espaços geometrizados, de aparente solitude, com mulheres no centro que se mostram, que querem ser percebidas.
Surgiram os flecho e clair que, pouco a pouco, foram se abrindo e desmanchando os personagens, diluindo-os em emaranhados de fios indiciando um outro sentido de sua existência – a “pele interna” – que se apresenta como um acontecimento orgânico, incerto do que há por vir, mas essencialmente, certa do poder de suas entranhas, refletindo e se afirmando em não recusar a servir a si mesma.

Sandra Christina F. dos Santos
Curadora da Exposição
Belém - 2007

"Na agulha palavras alinhavadas-Linhas Ilhós Ilharte"


Série: Na agulha palavras alinhavadas
Costura s/tecido Costura s/tecido Costura s/tecido


“NA AGULHA PALAVRAS ALINHAVADAS - LINHAS ILHÓS ILHARTE”


Sob medida vestida de obsessão e agora ponto a ponto exposição identidária da relevante elieni tenório que faz do cotidianoroupa a síntese de seu trabalho visual costurar a arte com os tecidos do universal feminino em agregação com o masculino seu ethos cultural em que usa refegos refogado gregas rendas que rendem organzas esticadas nos bastidores suporte magias articuladas nessas ferramentais permanentes das tarrafas e tarefas que se propõe atarefadamente mentindo a dor que deveras sente quando alia a chitatecido num corpo num copo seu corpus em cores vivas entremeadas de elementos telas lonas lolonas telonas imagens linhas traços gomas engomadas costuras e linhas alinhamentos no buraco da agulha alfinete espinho de tucumãzeiro entre fios enfios nos grandes lábios femininos costurados interditados deitados que se abrem para a próxima fase fase? inexiste é sempre retroalimentação que se inova na renovação homem/mulher instamento social tipo popular trabecular ósseo num papel de parede em que elieniartistatenório provoca e cutuca as coisas e saem dobras brechas brechós beiços propostas pré postas ontologias que se inflectem morfologicamente homiziadas nesse teatro mental que elieni instiga efetiva e afetivamente daí os figurinos figurantes óculos escuros nas vagas vagabas e travestimentas inventadas deo de deo pradedeu produto cultural mexelão combinação feminina traje que anavalhado de cheiro cheiroso cheira a inajá na escápula do quarto rede que range buchuda naquela hora ah elieni pari habilidade com esses moldes moleladores ressemantizados que mordem um ideal dedal de tinta fresca na roupa que virou bóia no armazém aviador otimize e siga em frente treinando sua memória andaço fragmento alimento cultural esta individual exposição ponto a ponto de elieni tenório segue o trato concreto práticas humanas não apenas femininas linhas gráficas revestindo a superfície das telas mapeando e moldando as peles todas marambaiasipuansmussuansletrasaconjuntasdisjuntadasmeiastrenas treinas meu amor? E jogas? Com manequins imagem mítica para contemplação reflexiva conexão linguagem mito detalhes delicados tamanhopeçaaberturacentrodascostasdafrentemoldesemordescosturaazeitacosemáquinae
ntretelasntretê-lasabra ascasaspreguebotõeschuleieleiebainhatulerendafranzaoforro e nesse avesso encontre a arte de elieni tenório desembainhada e delicadamente segura no papel poema passarela da vida elienilinhas no rastro do signo dissolvente o provisório que fica continuum na enformação livre que faz suportar a realidade vivencial artevida atrevidamente em risos
sizos serzidos.



Salomão Larêdo
Escritor e jornalista
Belém - 2005

"Além da fé: Nova Caminhada"


Além da Fé Nova Caminhada
Estandarte Estandarte

MEMORIAL DESCRITIVO


“ALÉM DA FÉ: NOVA CAMINHADA”


As Cruzadas foram movimentos de grande impacto na sociedade medieval, tanto na Europa quanto no Oriente Médio. Uma das razões da convocação dizia respeito à Igreja de Roma e seus interesses religiosos: outras atendiam aos interesses políticos dessa mesma Igreja; outras ainda eram de ordem econômica.
A leitura que faço das Novas Cruzadas, expressa nos meus trabalhos artísticos tendo como suporte estandartes (ver fotografias em anexo), parte da compreensão de movimentos que na atualidade simbolizam também a esperança de união da comunidade cristã.
Constato, infelizmente, que, no curso da História, lá onde se colocou na frente Deus ou a religião a violência e o ódio foram reforçados. Condeno completamente esse vocabulário de Bush na luta do bem contra o mal.
Se a nova evangelização ajudar nessa imensa tarefa de resgate de cinco séculos de sangue e lágrimas, terá cumprido apenas o seu dever e pago um pouco da incomensurável dívida contraída com as vítimas e da qual ainda muito resta a pagar. A paixão dos inocentes não terá sido em vão.
O estandarte simboliza a bandeira tanto religiosa quanto a dos exércitos de cada país e, contraditoriamente, uma caminhada pela paz que é também acompanhada muitas vezes por objetivos bélicos ditados por interesses econômicos. A cruz maltina é como se fosse um escudo para livrar os homens das violências provocadas pelos mesmos homens. A venda nos olhos simboliza o alheamento diante da injustiça estampada em todos os sentidos, a cegueira política e social e o descompromisso com uma nova sociedade mais justa e fraterna. Apesar de tudo, acredito em uma caminhada para a paz, em uma convergência dos homens para a fraternidade. Esta é a minha visão de mundo sobre as novas cruzadas, a qual tentei expressar na composição dos dois estandartes que pretendo mostrar na Bienal de Cerveira.

Belém-Pará-Brasil, março de 2007

Elieni Tenório
Artista Plástica

Costurando Arte Entrelinhas


Série de objetos na exposição
Objetos

COSTURANDO ARTE ENTRELINHAS

No começo, era, na obra da Elieni pintora, a crônica visual de “suburbanos corações”. Entre olhares fortuitos e cheios de intencionalidade, homens e mulheres dividiam o tempo e o espaço da pintura, em quadros que materializavam o precário, o cotidiano povera, que se multiplica nas periferias de cidades brasileiras. O periférico, que invadia o espaço sacralizado da arte, causou no principio um certo constrangimento. Dividiu contempladores. Para alguns, a pintura era suja e feia; pouco acabada; algo para ser apagado. Para outros, o passado guardado; querido; e, algumas vezes, extraviado dos álbuns de família das classes, hoje, abastadas da sociedade paraense. Foi, provavelmente essa dessacralidade, que fez de “Suburbano Coração”, um marco na trajetória de Elieni. Algo de tão bom e tão cruel aconteceu ali. Seus pares a execravam, a crítica se dividia, os colecionadores se deliciavam em comprar os quadros na galeria do CCBEU.
Obviamente, na “Entrelinhas”, o principio se une ao fim. E este final é demarcado pela escolha da autora em apresentar um dos quadros que figurou em “Suburbano...”, o qual para ela manifesta-se como a origem destas inquietações poéticas. Digo poéticas deliberadamente, pois, é exatamente nesta abordagem que a linha curva-se sobre seu próprio eixo e a autora constrói, para si, um território do possível, entre a figuração e o abstrato, no domínio do desenho de desejos. Onde ela ousa possuir corpos, macerar peles, tatuar uma nudez pictórica, que é, também, desenho estruturado, no contexto geometrizante de linhas simbólicas. Misto de um repertório cultural primitivo, evocado de sua relação com a vida e com o ofício de ser uma simples costureira. Em suportes inusitados, duvidosos para o repertório corrente da pintura, impregnou a textura de peles, cor de pele, nudez de corpos tatuados, vestidos em sua própria necessidade criativa, subtraídos de seus sonhos de emancipação.
Essa artista personifica, nestas elucubrações estéticas, o perfil de uma heroína da periferia de todos os lugares. Uma construtora de fatos artísticos, daqueles que subvertem os temas grandiosos, que chocam e fascinam, que explodem em notas visuais como um perfume de mulher. Feminina, abstrata, Elieni segue, neste recorte imaginário, traçando trajetos por entre e sobre tudo. A sua mística não nega o que veio antes. Ela não tenta ser, ela é, em qualquer lugar, uma personagem para deleite de si mesma. Diverte-se com suas pequenas tragédias cotidianas. Pinça-as para sua arte. Desfaz de si mesma, e se refaz, no momento seguinte, de uma forma picaresca. A arte é sua catarse, seu começo-meio de vida. Nela se aglutina o poder do devir, a reverencia e a irreverência, a liberdade de divinizar-se e humanizar-se, sem censura. Uma artista de gosto popular. Duvidoso? Escrachado? Pode ser. Uma artista que costura idéias. Uma costureira que idealiza o inusitado. Tudo, a um só tempo.
Entre linhas, Elieni. Desenha? Pinta? Tanto faz! E Tanto fez que nesta mostra desnuda um corpo sem contorno espetacularizando a arte sem pudor de si ou de outros...

Lídia Souza
Curadora da Mostra
Belém - 2006

Senhora Tentação


Mapa feminino Sobre a pele Mapa feminino
Mista s/Tela Objeto Mista s/Tela


Senhora Tentação.


Quando se vê o trabalho de Elieni Tenório agrupado na individual denominada “Vestida de Obsessão”, não há como ficar impassível, posto que, o contato com o repertório plástico exuberante em cores, formas e suportes, apresentados nas muitas coletivas das quais ela participa no curto espaço de um ano, sugere a seqüência mental da variedade, algumas vezes próxima à “fabuloseria”. Exatamente, este é o freio que a força da palavra obsessão carrega nesta proposta, imprimindo uma carga de tensão que fere os olhos condicionados pelos velhos hábitos de ver o fazer do outro.
Para desnudar-se poeticamente, Elieni selecionou uma paleta de cores e tonalidades, as quais ela utiliza no seu vagar por entre os diferentes “médiuns”. Os trabalhos apresentam novos entendimentos acerca das suas motivações de mulher/ mãe/ amante/ artista, que somados aos modos e práticas de outros eus femininos subvertem a condição de “ofícios menores”. Uma contribuição importante nestes dias de grandes trajetórias e novíssimas profissões, entretanto, que reserva espaço para as pequenas vivências, histórias muitas vezes ocultadas pela sociedade do “glamour”.
Assim, para presentificar sua obsessão, Elieni revirou os armários e foi ao encontro de tudo que pudesse servir ao seu deleite/delírio, garimpando modos de ampliar o seu universo plástico e a capacidade de representação das práticas femininas. As linhas gráficas, que cobrem superfícies de telas e vestidos, mapeiam os suportes como segunda pele e sugerem diagramas de uma obsessão maior do que os vestígios impressos em cada obra, pois, submetidos à vontade imponente desta “serial artista” revelam a gana de ser e fazer-se arte.


Lídia Souza
Arte Educadora- Curadora.
Belém - 2004

Perto de um coração periférico


Espelho da alma Toma, não diga nada a ninguém Perto de um coração periférico
Objeto Objeto Pintura s/Tela


Perto de um Coração Periférico

O universo de Elieni Tenório deságua na mais perfeita harmonia musical. Os trabalhos possuem uma forte carga emocional voltados para a musica como tradução de um mundo por vezes burlesco, por outros onírico, que a artista traça com equilíbrio e segurança da forma. Esta, propositalmente distorcida a exemplo de alguns trabalhos de Francis Bacon, mesmo que os de possuem um traço regional muito forte.
Elieni considera seu campo brega, mas não o brega na semântica deturpada, e sim no sentido de um reflexo amargo ou doce, por vezes encharcado de perfume barato, da vida exatamente como ela é, ou aparenta ser. Existe um sósia, digamos assim do trabalho de Elieni, só que no campo musical, Noel Rosa, que através de suas composições esquadrinhou todo o universo da Lapa e arredores, o que significa coração periférico.
A artista plástica Elieni Tenório, quando optou por denominar a sua futura mostra de “Coração Periférico”, pensava exatamente nesse universo noeliano, onde quase tudo é noite, sedução, cor de cinza e muito luxo e muita luxúria, como também dar continuidade `as experiências da mostra que inaugura nesta sexta, 22, na Galeria de Arte da Unama.
De qualquer forma não é de hoje que ela adentrou no mundo de Noel: um amigo indicou e ela compreendeu a similitude daquela fala poética aparentemente suburbana, porém com requinte e sofisticação de sentimentos. Sensível, escutou a gravação que Nelson Gonçalves fez de “A Dama do Cabaré” e ficou extasiada” o que Noel queria dizer e disse, é o que eu quero dizer” e já está dizendo. O que pode aparecer efeito retroativo nada mais é que a captura de um universo pelo outro, ou que Oswald de Andrade entendeu como a antropofagia. Elieni hoje relê uma cultura popular.
Os versos de Noel discorrem sobre um encontro entre um homem e uma mulher, em um cabaré na lapa, boêmia do Rio de Janeiro, dona do pedaço que fuma e derrama champagne, como nos bons tempos, em seu soiré. Elieni sempre constrói sua estética no universo popular: já são três universos em intercepção. Do popular, como leitura da fé, estranhamente recriada, e para executar seus personagens, a forma distorcida, simplificada, em busca de uma estética própria e contemporânea. Isso é importante em um artista e ela possui essa busca infatigável de poder denunciar, falar, provocar e ainda lutar contra forças contrárias, que buscam fazer com que desista de tudo, ou de qualquer coisa. Ela não desiste de nada.
Por sorte a artista é firme e tem um discurso articulado, bem estruturado em seu trabalho, o que impede a invasão de penetras e outros assaltantes de idéias e do sucesso alheio. Quanto a esse tipo de patrulhamento, uma das atitudes mais retrógadas das que existem, Elieni tem uma afiada resposta na ponta de língua, “quando eles vêm com eu acho que você deveria fazer isso ou aquilo, falo como falou Noel, “quem acha vive se perdendo”. Por isso só acredito, tenho fé”.
Esse fervor, essa fé, está no traçado de seus trabalhos que leva à Galeria da Unama com toda tranqüila forma de ser de seus personagens criados em instante de puro lirismo, quando Elieni se transporta para outra dimensão e consegue realizar a construção de um mundo que não pode ser igualado, posto que é único. E dele depreende-se toda a sonoridade de um samba-canção. Estilo Noel, quando se dança um samba e troca-se um tango por uma palestra e só se sai do cabaré uma hora depois de descer a orquestra. Nesse delírio elítico e lírico, Elieni anda segura.

Cláudio De La Roque Leal
Jornalista e curador
Setembro - 2000

Já diria Noel: quem acha vive se perdendo


Sobre a pele Sobre a pele Sobre a pele
Objetos Objeto Objeto


JÁ DIRIA NOEL: QUEM ACHA VIVE SE PERDENDO


Encontrando novos caminhos, a artista plástica Elieni Tenório investe em nova obra com o mesmo caráter feminino.


Cansada de acusações levianas que pretendiam colocar a arte que desenvolve como "cópia" da desenvolvida por outra artista, a artista plástica Elieni Tenório resolveu investir ainda mais profundamente no universo sexual/sensual, uma das mais fortes características da temática que há muito desenvolve. Elieni não comenta o que ouve, nem o que houve, o que as pessoas levam a ela para que se "sinta mal, constrangida, irritada, magoada. Prefiro responder com o meu trabalho". Este, diferente do que vinha produzindo, acabou com as "fofoquinhas" ganhando um dimensão assaz interessante, a começar por um belo oratório onde os santificados nomes são pessoas comuns em atitudes triviais, em prazeres absolutamente mundanos. Um aparte, quem corrobora com esse tipo de comentário deveria entender que problemas entre duas pessoas por elas devem ser tratados.
Desde sua mostra "Suburbano Coração" (1998), uma leitura do sentimento do povo mais simples, do povo do subúrbio, a artista está cada vez mais interada e interessada nesses sentimentos que afloram nas prostitutas e nos homens debruçados sobre a mesa de bilhar. Elieni não abandonou a condição da mulher, ao contrário, questiona cada vez mais, como se em uma página policial de jornal, por que as mulheres são sempre as eternas vítimas? Afirma categoricamente que se os homens matam por "contrato", por terras, bebedeira: as mulheres matam por dor, humilhação. Assim, enquanto os homens matam desconhecidos; pelos maltratos, pelo amor, mulheres matam seus amantes, suas amigas, seus filhos, como Medéia que por vingança assassina os dois filhos do homem que ama e que abandonou.
A arte de Elieni nutre-se especialmente dessa realidade cruel, ao tempo em que é alegre, descontraída, apaziguadora. São dias de folga, domingos de intensa religiosidade, anjinhos em caminhões sendo levados pelo caminho da fé (o que não deixa de nos despertar sentimento similar à genial procissão que Jorge Amado descreveu em "Gabriela Cravo e Canela"). Muito do que registra no subúrbio daqui a um tempo vai acabar, certamente ficando restrito ao interior do estado, a expressão mais genuína, como as fotografias, os registros, que a fotógrafa Elsa Lima executa. Aliás, Elsa provou que em sua fotografia essa atitude não era simples modismo. Está-se vivendo uma época fundamental para esse tipo de balanço.

De Bacon a objetos não identificados

Talvez o grande pecado de Elieni Tenório tenha sido deixar se influenciar pela poética do pintor Francis Bacon. Na exposição "Essência do Feminino" (2002), que compreendia produção de anos imediatamente anteriores, a solução espacial compreende muitos espaços assemelhados aos que Bacon inaugurou. Nada contra as influências, depois de Billie Holiday, que cantora de jazz cantou como anteriormente cantava?. O problema é que os diálogos, geralmente frustados, das personagens de Elieni acabam diluídos em atmosfera por demais conhecida dos que conhecem a obra daquele que levou o cineasta Bernardo Bertolluci a utilizar suas telas na abertura de "O Último Tango em Paris". Há telas geniais dessa fase que não condizem nada com os trabalhos de "Sob Medida" (2002), onde a solução de optar por delimitação do universo através de círculos, que lembram as telas de bordados, acabam vulgarizando a fala.
Recuperada, Elieni fez a série de "OVNIs" (“Objetos não Identificados”, uma vez mais a obra ligada à música popular (trata-se da canção de Caetano Veloso, imortalizada na voz de Gal Costa). Nessa, fase, o que se vê não é o que verdadeiramente é visto. O que se percebe, entre veladuras e cortes e suturas é um mundo interno, como se um ventre após uma cesariana ou uma vagina costurada após o ataque brutal de um estuprador. É o universo feminino, sem dúvida, só que desta feita Elieni nos mostra esse universo em sua face mais cruel.

De Caetano Veloso a Noel Rosa

A grande surpresa é que o universo de Noel Rosa, há muito indicado à artista como próximo demais ao seu, encontrar-se-á, desta feita, plenamente representado. Não é uma leitura direta, formal, mas uma investigação do sentimento da marginália carioca - uma "Ópera do Malandro"? -, certamente que não. A artista busca esse universo, os Arcos da Lapa, os cassinos, os boteco-tecos, da mesma forma que representa os nossos adoráveis cabarés com paredes de cores múltiplas. Certa vez, ao ouvir os versos de Noel, "Pobre de quem já sofreu nesse mundo, a dor de um amor profundo. Eu vivo bem sem amar a ninguém, ser infeliz é sofrer por alguém. Zombo de quem sofre assim, pois quem me fez chorar hoje chora por mim, quem ri melhor é quem ri no fim", Elieni explodiu: "É a minha cara".
A tela mais esperada, contudo, é uma imensa "Dama do Cabaré", escrita por Noel que relata um amor que não deu certo porque, como diz a personagem, "quem é da boêmia, usa a abusa de diplomacia mas, não gosta de ninguém". O que Elieni pretende, além de representar essa fantástica atmosfera, é retratar alguém muito famoso no rosto da Dama. Quem encontrar-se-á retratado? Muitos apostam que será o famoso travesti Madame Satã, afinal, há quem garanta que o clássico do poeta da Vila foi composto para um homem. Nada disso vem ao caso.
A exposição da qual Elieni fará parte está muito mais voltada aos Objetos Não Identificados, uma poética plena de mistérios, plena de veladuras, mas que leva o espectador aos sentimentos iguais ao de “Suburbano Coração” e tantas outras experiências. Mas, uma vez mais a dúvida, a curiosidade se mantém como poucas vezes se viu em nossas artes, de quem, afinal, será o rosto da “Dama do Cabaré”, justo a que preferiu ir para casa a pé?


Cláudio de La Rocque Leal
Jornalista/Crítico de Arte
Belém - 2003

A mundiação de Elieni


Ligada em você Carta fora do baralho Sob medida
Pintura s/disco vernil Pintura s/Tela Pintura s/Tela


A MUNDIAÇÃO DE ELIENI

Há pureza na profunda sedução que os trabalhos de Elieni exercem e expressam. O desejo, a ânsia em qualquer ser humano, nada fica subjacente, é exposto. Tudo é revelado sedutoramente com aquele molho, com o que não precisa de explicação como diz Caetano Veloso: “tá na cara” – perfeitamente entendido, por todos.
Os trabalhos mostram o cotidiano, sem retoques, despidamente belo.
Sensualidade implícita, olhante, no afeto, no acariciar, que prossegue acarinhado e expelindo odores, salpicando denúncias, rejeitando opressão, libertando carências, interpretando gozo estético e poético (porque, sobretudo, sexual), realizando, por meio das imagens, cada um, no seu recôndito, objeto do desejo que fica apenas no desejo quando não se tem coragem de acessar e Elieni vem e revela, com a maquiagem social perfeita de que se revestem os resultados plásticos num poema cobra-grande.
Como é gostosa a vida quando se sabe tirar proveito dela fazendo o bem ao outro em imagens fortes e cândidas, expressando a opacidade, o contraditório, assim como é viver, estar vivo, relacionar-se, ao mesmo tempo, um mistério e um deleite.
Retratos da vida do povo nos becos e esquinas, quatro paredes, meia luz, odores e sabores, discos, vinis, papelões, comidas, fomes. luares, lupanares em semicolcheias decantadas mulheradas, sonoras aparelhagens, altas (in) fidelidades vias e pavios, navios, porto, aborto, aperto, arruaças, sêmen, suor sexual semente, sangue/gangue, amor prostituto malandro (bate outra vez, gostosão) suspeito, peitos consumidos, estranhas/arreganhas revolvidas, mitos das minorias oprimidas, da maioria opressora, retrete que se reflete nos bares, nos lares, a artista lança todo o foco de luz, consciência crítica e política, das relações humanas, estende tudo e de tudo, quer ver, para todos, apenas o amor, expressão do amar que significa justiça e paz, felicidade, o bom da vida, entre tapumes, entre botecos, entre bandolas e baiúcas, a vida, tão somente a vida na tela, para tê-la, enorme, integral, plasmada de muito, mais, muito amor.
A arte vem e expõe, nada de subterfúgios, fugidios olhares que falam e que olham sem querer olhar e dizem o que não dizem, e nesse bate-coxa que jamais é pecado mortal, que dirá venial, avulta a fruta-pão da ternura que deve permear as relações na morfologia social, assim sugere Elieni.
Desfilam lindas donzelas metidas nas chitas, nos patchulis.
É uma atração irresistível, algo que vai mundiando e quanto mais se percebe mais se fica enredado pela inhaca, esse cheiro feminino empresilhado e libertador, condição de muco.
Pintura uterificante, cores erógenas vermelho/ vermelhante/ vermelhão (batons e bocas, arte da arte, atraente, sedutora) – exógenos tons e tudo fica irrevelável porque íntimo e não podia ser diferente, trabalhando com extremos, porque revelando Deus, o revelável/irrevelável traduzido em cada ser humano, a sedução é fatal, porque divina, saber se amar por Deus, o sedutor por excelência, por tanto amar-nos, como Ele gosta de nos seduzir e como é gostoso ser seduzido por Ele, e é por isso que a arte de Elieni é pura porque inerente e imanente à sua condição.

Salomão Larêdo
Escritor
Belém - 2002

nós, soluços que desata


Por mim Enquanto ele dorme II Por ela
Pintura s/Tela Pintura s/Tela Pintura s/Tela

nós, soluços que desata


és tu que vejo estender-me os braços
prende-me toda, amor, prende-me bem
grito teu nome numa sede estranha.
(florbela espanca).


ao que provoca o desejo e o que o desejo provoca em nós é a plasticidade de elieni tenório propondo-se em espasmos-sequência de silêncios entre nós/sons. é esse intervalo de armar/amar, sussurrando no corpo a cor do pecado – nexus y sexus, no que a luxúria respira também resolve o amor, transpirando-o entre os desassossegos da paixão.
A crônica de elieni provoca-nos uma vontade irresistível: de continuamente nos entregarmos e sermos capturados; apostamos na insegurança da relação de um nós.
As cenas obscenas nos assistem, nos amarram e nós/nus amamos compulsivamente. O objeto do prazer nos objeta, e nos sujeita à própria sarjeta a que o coração nos ata; o ser amado nos responde com seu deboche.
“o amor é um castigo” ( margarite yourcenar) e o verbo é punir aos pronomes eu y tu que não conseguiram permanecer sós; antes preferiram conjurar carne: eu mordo, tu mordes, nós morremos. Por nós elieni liberta os sons de suas imagens - amantes desejando senão nosso corpo, amados possuindo nossa alma.
Suas cores nos embriagam – vinho lambendo nosso ego para nos elevar/revelar aos cantos y prantos num soluço insaciável.


benoni araujo
poeta
julho - 2001

"o silêncio que evoca"


Mapa feminino Entrelinhas ...o que a folhinha não marca
Xilogravura Xilogravura Xilogravura

“o silêncio que evoca”

o eloqüente som do silêncio.
“na escolha de tantas atravesso os tempos
numa noite erma em busca da palavra que
possa reduzir-te o sonho ou recobrar-te a
essência perdida” (paulo plínio)


a alma é demasiadamente humana nas cores/dores que elieni tenório traduz por suas mãos a partir de variações e semelhanças tramadas no olhar.
a atração de suas imagens indaga ausências simultaneamente ao que se responde com
multiplicidades - essência daquilo que se quer revelar; são consoantes (LN) evocando em silêncio suas vogais e o grito contido em toda e qualquer mudez.
ambientes sempre tão íntimos, como a voz e a alma- verbo animador, resgatam secretamente o pensar/ pulsar dos personagens que somos nesse intrigante instante das relações humanas.
elieni contém essas muitas faces e ecos esperando ser auscultados; contém verbos, mas prefere imagens às palavras, e assim instigar a audição do olhar.
das impressões às vezes o nada, as cinzas e em outras as tintas timidamente ali nos lábios, nas mãos, no instinto racional das vaidades clamando lugar/ tempos para aquilo diante da vida/ morte: a alma queimando em velas, a oração dessa artista é profunda e profanamente ardente ( e difícil é não dizermos amém!). desejos e dejetos unidos num corpo.tomemo-nos por sua sedução, então comamos e bebamos- o desjejum é também nossa fala.
Agora ouvir a pele, o papel, a superfície. um segredo talvez nos seja revelado por entre os poros: o sopro divino- sua imagem e nossa (des)semelhança- fazendo um vendaval dentro de nós. deixai sair o primeiro grito para que haja luz.


benoni araújo
poeta
dezembro/2000.

Alegorias do Feminino


SolidãoDe malas prontas Quase de saida Enquanto ele dorme I
Pintura s/Tela Pintura s/Tela Pintura s/Tela Pintura s/Tela






ALEGORIAS DO FEMININO

A mente do pintor deve ser como um espelho que sempre
toma a cor da coisa que reflete e que está cheia com tantas
imagens quanto as coisas postas diante dele...
(DA VINCI, 1925, P. 22)

Quando Elieni Tenório fez sua primeira incursão no institucionalizado mundo das artes, em dezembro de 1989, na última Sessão Espaço do período, no Hall Ismael Nery do CENTUR, a despeito de um certo ecletismo de gosto e produção, já denunciava o elemento temático que seria o fio condutor do pensamento figurativo que desembocaria na fúria de pintar fantasias, emoções e frustrações do eu e de outros “eus”presentes ainda hoje nos seus trabalhos.
Provavelmente, nessa trajetória, quase nunca linear, de erros e acertos, Elieni viu surgir as possibilidades de, através da pintura, invadir e ver invadido os domínios daquilo que se entende como condição feminina, tal qual nos foi apresentada nestes séculos de patriarcado. Entretanto, antes de propor-nos uma ruptura conceitual do tema, a artista apresenta-nos isto sim, um mundo alegórico todo ele paradigma de uma liberdade individual, subjugada pelo pictórico.
Aos olhares curiosos do coletivo simbólico, são apresentadas cenas de uma periférica realidade, na qual a antevisão da realização erótica é permeada de ilusões e desilusões, completadas no plano metafísico do qual a pintura é elemento provocador de inconsciente neo-platonismo. Paixões súbitas, olhares fugidios, traições, adultérios, sentimentos vãos, emoções humanas, fantasmagorias manifestas no mundo sensível do ser e do não-ser.
Na arte de dizer e de negar através das imagens, encontramos espelhos que não são espelhos, mas duplos de uma forma idealizada, objetos que logicamente estariam ocultos, aparecem evidenciados absurdamente; imperfeitas perspectivas a nos fazer lembrar o jogo ilusório de representações do mundo das idéias; atos interrompidos, fatos não consumados, são lembranças que espelham recortes de memórias de si e de outros. São configurações que remetem a desejos submersos no inconsciente da alma humana.
É a Female exteriorizando as relações nebulosas de um mundo simbólico, flagrada na representação diáfana de mosquiteiros que mais lembram planejamentos de alcovas, de transparências compostas por cortinados e lâminas de vidros embaçados pelo calor de corpos em movimento. São momentos em que o figurativo propõe muito mais que simples mimesis, a possibilidade de recodificação e alargamento do próprio conceito de imitação.

Lídia M. S. Souza
Arte-Educadora
Belém - 1999

A Câmara Clara


Contemplação Recomeço Continuo te esperando
Pintura s/ Tela Pintura s/ Tela Pintura s/ Tela

A Câmara Clara.

“Perdi-me dentro de mim
porque eu era labirinto,
e hoje, quando me sinto,
é com saudades de mim.”
(Mário de Sá Carneiro)


Talvez não seja de estranhar que Elieni Tenório procure delinear, a esse ponto de sua ação poética, continuamente renovada, as repercussões internas de uma pintura que sabe se valer do fato de que a identidade de um texto (como a dos homens) não garante uma distinção: ao mesmo tempo que expressa ser uma coisa, alude sua ausência.
A (im) precisão calculada desses reflexos - uma listagem de negações e perguntas, portanto, reflexões - visa desalojar a linguagem do seu caráter de representação convencional e estabelecer um litígio: nos conduz ao núcleo emocional de um acontecimento do qual, no entanto, a história está subtraída e os diálogos, a despeito do ambiente teatral exaustivamente reconstituído, não existem. Aqui o silêncio se refaz dentro do silêncio e o amor é um brinquedo em que, como na morte, sempre perdemos.
Participamos assim de uma intimidade, partilhada pelo “eu” e pelo “tu” internos à pintura, mas que não se lança ao ar, não se projeta para fora, gerando efeitos de nitidez e simultâneo enlaçamento nomeados pela mínima narração cromática.
Um universo sendo euforia é o resultado final desse delineamento, a um passo do espelho e de olhar não inocente é nessa câmara clara que Elieni Tenório nos revela o ponto exato da distância entre como um escândalo linear, de não podermos nos dispersar a não ser dentro de nós mesmo, habitantes de uma zona onde nenhum gesto mais é possível- ou é, será, pois os contornos do espelho podem não ser fixos e quem sabe possamos atravessá-lo – um percurso no labirinto.


Ney Paiva
Poeta e Artista Plástico
Setembro 2000