domingo, 16 de maio de 2010

Razões do Corpo

RAZÕES DO CORPO

Minha trajetória artística tem sido marcada pelo universo feminino o qual busco expressar através de um repertório plástico que inclui a diversidade de cores, formas e superfícies.
Ao longo do tempo, intensifiquei minhas pesquisas e utilizei várias técnicas sem, contudo, distanciar-me de minha identidade pictórica, porém, num processo gradativo de construção/desconstrução.
Avalio a fase atual de minha produção artística como uma síntese de minha trajetória, uma ampliação de meu universo plástico e das formas com as quais represento as práticas femininas. A exuberância de cores e a multiplicidade de informações, características da fase inicial cederam lugar ao abstrato, e com ele vieram as linhas gráficas revestindo a superfície de telas mapeando os suportes como segunda pele.
Considero de fundamental importância no meu processo de criação artística os esboços dos objetos. Os desenhos buscam a melhor adequação dos objetos aos suportes, em particular no que se refere aos manequins, e ainda permitem exercitar as possíveis soluções quanto a sua arquitetura. Neste sentido, são importantes também as pesquisas que venho realizando com o tecido visando obter a coloração e a consistência desejadas
para os objetos, utilizando tinta, pigmentos diversos e cola.
Esse processo, não linear, é desafiador. É um processo de construção/desconstrução que tem como referencial a roupa enquanto segunda pele. O produto do meu trabalho não tem compromisso com o utilitário, transcende a indumentária, revela fantasias e transita entre a tênue fronteira que separa o sensual e o erótico. É nesse contexto que venho trabalhando o corselete, utilizando diversas técnicas. Como observou a curadora Marisa Mokarzel, “índices de intensa sexualidade percorrem o universo feminino, cobrem de sensualidade as configurações arredondadas de seios e quadris que impregnam o corselete. A mulher ausente da peça exposta, virtualmente, impõe-se à forma”.
O meu fazer artístico está vinculado às influências do contexto social, econômico e cultural: a leitura que faço do cotidiano ( das mulheres, da periferia, das mazelas sociais, do descompromisso político) está expressa de uma forma ou de outra nos meus trabalhos, como mostrado nas individuais “Suburbano Coração”, “Espelhos da Alma”, “Nos Bastidores da Vida”, “Essência do Feminino”, “Nos Tempos do Apagão: aventuras e desventuras”, “Entrelinhas” e “Obsessão”, entre outras,
As minhas obras que serão mostradas na exposição “Eu e o Homem” foram produzidas com a utilização de papel de parede, tecido e caneta retroprojetor. Trata-se de um exercício na busca da harmonia entre cores, traços e suporte, e , ao mesmo tempo, uma proposta associada ao tema do Dia Internacional dos Museus no ano de 2010: harmonia social, conceito que tem como principais características “o diálogo, a tolerância, a coexistência e o desenvolvimento, baseados no pluralismo, diversidade, competição e criatividade”.


Belém-Pa, abril de 2010
Elieni Tenório
Artista Plástica